Sua tarefa não é buscar amor…

Sua tarefa não é buscar amor, mas meramente buscar e encontrar todas
as barreiras dentro de si próprio que você construiu contra o amor. (Rumi)

André Chediek*

Quando decidimos postar esta frase de Rumi em nossas redes sociais, logo me veio uma reflexão que eu gostaria de compartilhar com vocês: quantas vezes nos vemos buscando o amor como se fosse algo que existisse fora de nós e que “deveríamos” receber, quando, na verdade, podemos olhar para ele como uma emoção que acontece dentro de nós?! Considerando emoção aqui não como um sentimento, mas como forma de relacionamento.

Somos seres onde a sociabilidade, essa troca entre nós, foi e é fundamental para a nossa existência. É uma necessidade nos “forjamos” evolutivamente por meio da capacidade de nos relacionarmos, criarmos vínculos, afetarmos e sermos afetados. Recentemente, até fizemos um post sobre o estudo mais antigo de Harvard, dirigido atualmente pelo psiquiatra Robert Waldinger, que revela o quanto os bons relacionamentos nos mantêm mais felizes e saudáveis.

O amor é a emoção fundamental que tornou possível a história da humanidade. Podemos dizer que somos feitos para amar e ser amados. Porém nem sempre há disponibilidade para isso, não é tão fácil ocuparmos o “nosso lugar” de fato, onde podemos simplesmente amar incondicionalmente. Isso porque amar não é um substantivo, mas um verbo, uma ação de consentir com o outro assim como ele é, de forma incondicional. Sem esperar ou exigir nada como recompensa. Mesmo quando nem tudo é do nosso agrado ou interesse, podemos decidir se vamos nos relacionar com uma pessoa e a maneira como nos relacionamos.  Esse é o exercício para estabelecermos vínculos amorosos.

E por não ser tão simples assim esse amor incondicional, acabamos sentindo dores que ferem, viram “cascas” e que, muitas vezes, podem nos levar a um sofrimento tão grande que entramos no modo sobrevivência. O grau de afetação torna-se tão intolerável que é melhor não sentir nada do que sentir essa dor. Tudo vai ficando cinza, nos protegemos, é verdade, para deixar de sofrer com a dor, porém com o alto custo de deixar de sentir tudo que a vida pode nos oferecer.

Essas são as barreiras que construímos, como defesa, contra o amor, contra o sentir. Nem sempre isso é fácil de se solucionar sem um acompanhamento terapêutico, porém, trazer essa percepção para a consciência, permite que façamos o exercício de reconhecer que, seres humanos que somos, somos dignos de amar e sermos amados. É um direito e, portanto, se simplesmente decidirmos abrir mão dele, pode nos custar muito.

Hoje, como adultos, podemos olhar para tudo da forma como foi e dizer SIM, mesmo que não tenha sido o que desejei. Foi o que aconteceu. E afinal, como escreveu o poeta Henry Wadsworth Longfellow, no livro Tales of a Wayside Inn, “A melhor coisa que se pode fazer quando chove é deixar chover”.

Assim, tomamos tudo como foi e HOJE no presente podemos fazer algo diferente com isso. Desta forma, nos libertamos do que nos incomodava no passado e criamos estratégias diferentes para viver o PRESENTE. Construímos a nossa história, o que desejamos viver, fazendo do reconhecimento das barreiras que construímos contra o amor a ponte para a nossa essência amorosa. Sabendo que, igual à nossa história evolutiva como seres neste planeta, é a nossa história evolutiva individual.

Ou seja, através dos obstáculos, das dificuldades, foram e são desenvolvidos novos recursos, novas capacidades e novas habilidades. E apenas com o sentir amoroso conseguimos atravessar essas dificuldades. Como disse Sri Nisargadatta Maharaj, “a mente cria o abismo, o coração atravessa.” O segredo não é deixar de sentir (isso não resolveria). Mas lembrar que esses tijolos que utilizamos para estabelecer barreiras contra o amor podem ser muito úteis na construção de pontes para o nosso coração e para a nossa essência amorosa. Ao invés de buscarmos fora, basta disposição para estarmos atentos e caminhar para dentro de nós.

*André Chediek é fisioterapeuta osteopata, constelador familiar e coordenador acadêmico da 5LB Brasil. Estuda as 5 Leis Biológicas desde 2010.

 

 
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